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Bem ti vi

Para você, Letícia, meu Bem-te-vi".
Viste, hoje, o passarinho na janela?
Tão frágil, tão pequeno, tão delicada fera.
Parece procurar-te, de primavera, em primavera. Até pousar cansado, noutra janela.
Ouviste-lhe, acaso, o canto de saudade? Também eu te procuro minha bela.
Encontro-te no meu peito, fiz-te um ninho, aconcheguei-te no meu altar.
É que aquele passarinho na janela lembrou-me o dia que há muito já perdi.
Bem me quiseste, e tanto bem te quis...
Quiseste mais, eu sei, compreendi. Tu frágil, doce, bela...
Lembro-me de ti. Esquecer-te, meu amor, seria como me esquecer de mim.
É que aquele último dia cerrou-te os olhos delicadamente, e entre beijos eu te vi partir...
Voaste!... Voaste firme e decididamente.
De volta para dentro de mim,
E eu... Fiquei aqui, a lembrar-te de ti, a sonhar contigo, esperando o dia em que poderei te ter aqui, em meus braços para abraçar-te, beijar-te, beijar-te, beijar-te..
Te espero até depois do fim.

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Todos os dias ela vive em mim, mas datas invade-me!
Dia 05/04 ela nasceu, eu me permito sentir todas dores, mas acima de tudo "Gratidão"
Dia 15/10 ela foi para o céu, e eu sou revolta, questionamentos, mais ainda sou amor!
Maio mês das mães, das flores, do meu nascimento e nesse mês, ela é ainda mais minha!
Dia 25/12 é natal, dia em que faço meus pedidos, de misericórdia, compreensão e força!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Sobre amores eternos

Não me peça para calar o nome de quem partiu, 
não seria justo com as nossas histórias,
Me empreste seus ouvidos,
deixe que eu fale do amor que transcende,
atravessa rios e terras, brinca com o sol e a lua,
Gentilmente, peço lugares pra espalhar minha saudade,
no meu coração não cabem despedidas,
meus olhos, queixosos, aprenderão a encontrar o amor,
serei irmã do entardecer, abraçarei os pássaros no poente,
suavemente, me entregarei ao barulho do riacho e do vento,
Nesse processo lento, 
que acompanhará o tamanho do meu amor,
seja paciente com minhas lágrimas,
despertarei no meio da noite, assustada com pesadelos reais,
até que me acostume com o que não se acostuma,
Me cubra com seus braços, me diga que ficará tudo bem,
me ensina a ternura das flores,
até que eu encontre, no meu coração, 
caminhos confortáveis para a minha saudade...
(Teresa Gouvea)

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Analisa o luto e vê o amor

Um dos maiores especialistas em luto no mundo, o psiquiatra inglês Colin Murray Parkes, 77, parou na frente de uma escultura em mármore negro, a de que mais gostou em seu passeio pela Pinacoteca do Estado de São Paulo na tarde da última sexta-feira.
"Está quebrada, mas inteira. A impressão é que quebrou, mas continua inteira, continua uma pessoa, uma vida, uma coisa. É reconhecer o valor das duas partes, mesmo quebradas", disse Parkes, que é consultor do St. Christopher's Hospice, em Londres, uma instituição para pacientes fora de possibilidades terapêuticas .
"Figura Quebrada", obra de 1975 do compatriota Henry Moore, materializou a teoria de Parkes sobre a dor da perda, construída durante mais de 50 anos.Para Parkes, o luto é o preço que se paga pelo amor, por uma vida feliz. É assim que ele impulsiona seus pacientes a não esquecer, mas seguir com a boa lembrança. Para ele, o luto é uma importante transição, pode ser um momento para recriar a própria história, diz."O apego é poderoso, e quando o apego é quebrado, você se sente exatamente assim. O que essa escultura capturou é que, ainda assim, é bonito", disse Parkes, que desfrutava do único dia livre de sua passagem na semana passada pela capital paulista para o 3º Congresso Brasileiro de Tanatologia [estudos sobre a morte] e Bioética. O evento que terminou ontem foi promovido pelo Instituto 4 Estações e por centros de estudos sobre a morte e o luto da Pontifícia Universidade Católica e da Universidade de São Paulo. O evento foi tão procurado que começou com lotação esgotada.Veja a seguir outros trechos da entrevista concedida à Folha.
Colin Murray Parkes - Muitas coisas diferentes contribuíram para isso. Uma delas foi meu descontentamento com a forma como alguns médicos tratam seus pacientes. Mesmo quando eu era um jovem estudante de medicina, era interessado em psicologia, tinha vontade de estudar os fatores de estresse dos pacientes e ajudá-los nesses momentos decisivos, quando você se depara com as perdas ou fica doente.
Eu vejo a morte e o luto como parte dos eventos que mudam a vida, o que inclui a perda, que sempre traz um elemento de ganho. O nascimento de um bebê pode ser muito traumático, dolorido, pode ser uma perda também, em alguns pontos de vista, e é ainda um ganho tremendo. A parte recompensadora de trabalhar com pessoas que estão vivendo o luto é vê-las crescer. Eu acho que uma das coisas que o luto ensina é que as pessoas que amamos nunca perdemos. Elas são parte da nossas vidas para sempre.
Quando alguém diz "ele vive em minha memória", isso é verdade. O problema é que, no primeiro momento em que se perde alguém, sente-se que todas as coisas boas que vieram com essa pessoa se perderam também. Só quando a pessoa pára de tentar recuperar é que percebe que nunca perdeu.
Parkes - Claro que é. Mas a dor do luto é igual à do nascimento, como disse. É doloroso, mas algo bom pode vir com isso. Você se sente fraco, carente, mutilado, acha que tudo o que é importante foi embora. Mas a mesma pessoa, talvez dois, três, quatro anos depois vai dizer coisas como "estou surpreso sobre o quanto sou forte". Eles percebem que sobreviveram, que começaram a valorizar a si mesmos e à pessoa que morreu de uma nova maneira, que é mais madura. Não estou sendo Pollyana, eu não espero que minha mulher morra. Mas não importa se eu vou morrer antes dela ou ela antes de mim. Quando isso acontecer, nós sabemos que poderemos continuar um sem o outro.
Parkes - Eu diria que isso é parte de um lado espiritual. Porque espiritualidade é achar um sentido na vida, qualquer que seja a linguagem que você utiliza para explicar esse significado. Muitas pessoas gostam da linguagem de Deus. Quando trabalhamos com pessoas que vivem o luto estamos fazendo o que os padres fazem, tentando ajudá-las a achar um novo significado.
Parkes - Não há dúvida de que o luto é a experiência psicológica mais dolorosa que qualquer pessoa irá viver, e, quanto maior é o amor, maior é essa dor. Não há dúvida, o luto é um preço que temos de pagar. Algumas pessoas acham seu luto tão doloroso que ficam com medo de amar novamente. Mas o preço vale a pena.
Parkes - Isso certamente ajuda. As perdas são inevitáveis na vida. Perdas que podem ser de uma boneca ou de uma pessoa. E os pais devem aproveitar essas oportunidades para ajudar as crianças a aceitar que a perda é parte da vida.
Eu estava dirigindo com minhas filhas no carro uma vez -elas tinham cinco, três e dois anos de idade- e uma delas viu um gato morto. Eu parei e disse: vocês querem ver? Começou um debate [risos]. Elas decidiram que sim e eu dei permissão. Ainda bem que o gato não estava em um estado tão ruim [risos]. Mas conversamos sobre o que aconteceria com ele. Eu disse que um dia poderia virar adubo, que faria mais flores bonitas crescerem em um jardim. Alguns dias depois a mais nova perguntou: "Pai, o que vai acontecer com você quando você morrer?" Eu perguntei o que ela achava. "Adubo!", ela respondeu.
Parkes - Um exemplo é se sua mulher ou seu marido tem o mal de Alzheimer, uma demência. Ela se torna uma pessoa diferente, infantil, insensível. Você lamenta pela pessoa que perdeu. Algumas pessoas conseguem superar isso, lembrar como a pessoa era.
É assim também com a mãe, que sempre espera uma criança perfeita e tem um bebê com uma deficiência física. Algumas irão rejeitar essa criança.
Se você puder ajudar essas pessoas em seu luto, elas poderão chegar à conclusão de que sim, é muito triste, mas que podem amar de uma maneira diferente e até mais forte. Sim, e pode haver luto mesmo se você perder o que nunca teve. É o caso de alguém que sempre quis se casar e o noivo abandonou antes da cerimônia.
Parkes - É uma decisão muito difícil. Há muitas pessoas envolvidas. Não é só a questão sobre se o sofrimento justifica uma autorização para que o paciente morra. Mas como irá afetar pais, irmãos. Sim, sabemos que há as questões econômicas. Se bloqueio este leito, outras cinco pessoas irão morrer. Não há resposta simples. Essa questão não tem que ser decidida na base do "não matarás", ou de preconceitos, mas em um contexto em que todas as variáveis têm que ser levadas em conta, incluindo familiares e políticas de saúde.




Folha - Por que o senhor escolheu trabalhar com o luto?
Folha - Viver diariamente outros lutos é doloroso para o senhor ?
Folha - Alcançar isso independe de uma crença religiosa?
Folha - O senhor afirma em seu livro que o luto é o preço que pagamos pelo amor, por termos aceitado compromissos em nossas vidas. O luto é inerente a uma vida feliz?
Folha - É possível educar para o luto?
Folha - O senhor fala de outros lutos, que existem mesmo quando não há a morte.
Folha - Como as políticas de saúde devem lidar com a morte? No Brasil a criação de regras para a manutenção de terapia intensiva gerou acusações de que o governo queria um holocausto. A mesma comoção que há sobre a eutanásia.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

É preciso ser Valente

Reaprendendo a viver depois da morte de um Filho.
É preciso ser valente para acordar, levantar, tocar a vida, e quando todos me dizem: “Bom Dia”!!! eu consigo responder no mesmo tom; “bom dia”!, quando só eu e Deus sabemos como está difícil viver esse dia...
É preciso ser valente, para ver a vida prosseguir, me empurrando quando às vezes a vontade é deitar e deixar a vida passar, mas ela é mais imperiosa que eu...
É preciso ser valente para viver de lembranças, guardar fotos, filmes como os maiores tesouros que me restam...
É preciso ser valente para muitas vezes permanecer calada, quando a vontade é gritar, colocar pra fora todo o desespero da alma na saudade de um abraço único que num momento “mágico” desapareceu...
É preciso ser valente para participar das “redes sociais”...
É preciso ser valente, para continuar me inserindo em alguns contextos, quando na verdade me sinto excluída pela própria vida... porque a solidão adoece...
Sou valente porque na minha fraqueza, na minha fragilidade, Deus me torna forte. 
Sinto-me às vezes anestesiada, atordoada, chego a ficar sem o ar, mas percebo que algo mais forte me sustenta, me levanta, me coloca em movimento, sopra meu rosto, sacode meu corpo como fazemos quando um filho quer dormir após bater a cabeça em algum lugar e precisamos mantê-lo acordado.
Deus cuida de mim para que eu seja valente, pra talvez ajudar a outras mães, assim como eu, para repassar essa experiência para outros que por coisas menores querem sucumbir...
Sou guerreira, sou valente, sou forte, sou revoltada, sou triste , sou frágil, sou amável, sou amiga, sou companheira, sou mulher, sou mae!

domingo, 5 de abril de 2020

MÃE DE UTI

Eu Sempre Serei Mãe De UTI, mesmo não estando no momento.. pois quem passa por isso jamais será a mesma pessoa...

EU ADMIRO TODAS MÃES DE UTI.
A todas as mães e pais que conhecemos nessa jornada...

Quem foi mãe de uti sabe como é complicada a temporada de quem necessita passar neste lugar. Sabe a loucura que é cada dia, cada visita, cada palavra do médico. Cada saída, cada chegada.
Mãe de uti não dorme direito, come qualquer coisa (quando come) e tudo que faz é ficar perto da cria olhando. Quando não pode tocar, olha e torce. Fala, sussurra, ora, vibra, dá passe, faz oração, chama o nome de todos os santos. Ora pelos médicos, pelas enfermeiras, pelas assistentes, pelo hospital inteiro, pela humanidade. Lê todos os salmos, faz força com o pensamento, vê anjos em volta do leito. Aceita todas as religiões, toda força que vier positivamente é muito bem-vinda.
Quando toca seu bebê tenta passar toda sua força, até mesmo sua vida através de sua mão, tenta doar algo para tirar sua criança dali logo e tê-la consigo.

Se você  conhecer uma mãe de uti, não precisa dizer muita coisa, não precisa perguntar muita coisa, só diga que logo ela estará em casa com seu bebê. Mesmo que a situação seja a mais complexa possível, isso é o melhor a dizer, porque esperança de mãe de uti é a última a morrer. Enquanto bate o coração, mãe de uti espera tudo de volta.

Mãe de uti não descansa, não lembra de comer, não conversa sobre outra coisa. Tudo que ela pensa dia e noite é: "Quero minha criança nos meus braços hoje, bem longe daqui".
Médicos, não perguntem a uma mãe de uti até que ponto ela sabe o que está acontecendo. Cheguem e falem logo. O suspense que existe nas visitas é sufocante, cada passo do médico em sua direção é visto como em câmera lenta, e a cada plantão ela precisa ficar repetindo a mesma história, isso é desgastante. Larguem esses protocolos!

Muitas vezes mãe de uti fica sozinha com sua esperança, pois todo mundo já não vê mais chance. Deixem-na ir em todas as visitas, deixem-na entrar. 
Deixem-na acompanhar seus filhos, paciente com acompanhante melhora mais rápido, o filho se sente protegido e a mãe bem mais calma.

Mãe de uti aprende a lavar das mãos até o cotovelo, a não tocar em nada depois, a andar com braços dobrados empurrando portas com os quadris, e vive cheirando a álcool gel. Seus olhos são atentos a cada medida tomada pelos profissionais dentro da sala. Seus olhos são atentos às máquinas, números, sondas, horários, suas perguntas são infinitas. E sempre pedem um exemplo de alguma criança que esteve assim e se salvou. Se sentem mais conhecedoras de suas crias que a própria medicina. Deixem-nas. Seus corações aceleram a cada visita que não podem fazer por motivo de intercorrência com algum dos outros pequenos pacientes.

Mãe de uti não acredita mentalmente quando o médico diz que o bebê piorou, exclui a informação da mente, repreende, acha que é tudo exagero. Mesmo que o coração aperte sentindo que é real. Aliás, não tem como distinguir o que é real. É um estado emocional que te deixa fora do corpo, ora está no médico, ora está na criança, ora está em um aparelho...seu ser muda de lugar a todo momento.

E elas também comemoram cada bebê que vai pra casa, choram a dor de outras mães que não tiveram a mesma sorte, como se fosse sua própria criança. Sentem medo, sentem vontade de que aconteça o mesmo com elas e também possam sair. E por vezes se perguntam porque não foi sua vez. Mas não há um pingo de maldade em seus pensamentos, porque elas jamais desejam o mal para obterem o bem (nem teriam tempo para isso). Elas querem que todas crianças saiam, e até convivam, sobreviventes daquele lugar numa grande festa de 1 aninho.

Ofereçam abrigo a uma mãe de uti, deem colo, coragem, contem casos de sucesso, dirijam por elas, cuidem de suas casas,  isso é o que realmente funciona com uma mãe nesta situação. Esta mulher nunca mais será a mesma. Independente se sai dali com os braços preenchidos ou não.